A guerra foi, sem dúvida, o
problema ético mais importante do século XX. No século passado, morreram mais
pessoas por efeito direto das guerras do que nos vinte séculos anteriores. O
século XXI continua a enfrentar o mesmo problema ético com guerras sangrentas
no Afeganistão, no Iraque, no Líbano e na Síria. A par das mudanças climáticas,
da poluição e da pobreza, a guerra é um problema ético que gera controvérsia e
disparidade de argumentos.
Os esquerdopatas impregnam o currículo de pacifismo acrítico em todas as situações, sobretudo quando o país atacado pertence ao universo do capitalismo liberal ou integra o chamado Mundo Ocidental. Abrem, contudo, exceções: a guerra que os islâmicos radicais fazem ao Ocidente é uma guerra justa porque é, na perspetiva dos esquerdopatas, uma resposta à agressão imperalista, identificada pelos esquerdeopatas como a aliança dos EUA, alguns países da União Europeia e Israel.
Os esquerdopatas impregnam o currículo de pacifismo acrítico em todas as situações, sobretudo quando o país atacado pertence ao universo do capitalismo liberal ou integra o chamado Mundo Ocidental. Abrem, contudo, exceções: a guerra que os islâmicos radicais fazem ao Ocidente é uma guerra justa porque é, na perspetiva dos esquerdopatas, uma resposta à agressão imperalista, identificada pelos esquerdeopatas como a aliança dos EUA, alguns países da União Europeia e Israel.
Robin Gill (1) agrupa as
respostas ao problema ético da guerra em quatro tipos: militarismo em todas as
situações, militarismo seletivo, pacifismo seletivo e pacifismo em todas as
situações.
No primeiro caso, defende‐se o
recurso à guerra em qualquer lado, a qualquer hora e por qualquer causa.
No segundo, defende‐se o recurso
à guerra defensiva quando um país é atacado por outro.
No terceiro, recorre‐se à guerra
apenas quando se está convencido de que é uma guerra justa.
Por último, recusa‐se o recurso à
guerra seja qual for a situação.
A ética cristã repudia a primeira
resposta. As respostas b e c são aceitáveis apenas quando estamos perante
guerras justas.
Para uma guerra ser considerada
justa é preciso que respeite os seguintes critérios: 1) ser declarada por uma
autoridade legítima; 2) ser defensiva, ou seja, constituir uma resposta a uma
ameaça exterior; 3) usar meios proporcionais, ou seja, constituir uma resposta
à ameaça exterior usando meios proporcionais aos meios usados pelo atacante; 4)
haver evidência de que a guerra pode evitar males maiores.
Quando um destes critérios falha,
a guerra não pode ser considerada justa.
É possível registar duas fases
distintas na posição da Igreja Cristã face à guerra: a posição antes de
Constantino e a posição depois de Constantino. Antes da conversão do Imperador
Constantino ao Cristianismo, predominava a defesa do pacifismo em todas as
situações. A defesa do pacifismo em todas as situações está, hoje em dia,
limitada a pequenas congregações religiosas: Anabaptistas, Quakers, Amish e
Testemunhas de Jeová.
No período pré‐Constantino, é
possível destacar a posição inteiramente anti‐guerra de Tertuliano (160‐220).
Orígenes (185‐254), embora contrário à guerra, admitia a participação dos
cristãos em guerras conduzidas a favor de uma boa causa.
Foi preciso esperar por Agostinho
de Hipona para que a ética cristã incorporasse o conceito de guerra justa. O
bispo Ambrósio e o bispo Agostinho faziam a distinção entre uma guerra justa e
uma guerra injusta, considerando que os cristãos não podiam isentar‐se de
participar em guerras justas. Agostinho interpretava a condenação do uso da
espada (Mateus.26.52‐3) como uma condenação do uso da espada sem a autorização
de uma autoridade legítima (2).
A respeito da guerra é possível
encontrar argumentos diferentes no Antigo e no Novo Testamento. A Bíblia
Hebraica é mais favorável à guerra e está repleta de episódios que descrevem a
guerra como uma solução sem que vislumbre nesses textos uma condenação clara do
seu uso ou uma distinção entre guerras justas e injustas. A Novo Testamento é declaradamente
anti‐guerra, embora Jesus e os Apóstolos nunca tenham feito a condenação do
serviço militar.
A mudança da posição da Igreja
Cristã face à guerra tem de ser compreendida à luz da conversão de Constantino.
A partir de Constantino, o Cristianismo passa a ser a religião oficial do
Império e a Igreja Cristã sai das margens da sociedade para assumir uma posição
cada vez mais associada ao Estado, acabando por se fundir com ele, no século
XIII, com o surgimento do conceito de Estado Cristão de natureza claramente
teocrática. Foi nesse século que Tomás de Aquino viria a lançar as bases
racionais de uma teoria da guerra justa que é, até hoje, a posição oficial da
Igreja Católica, sucessivamente consagrada por várias Encíclicas.
No século XX, assistimos a uma
mudança na natureza da guerra, tornando‐se ainda mais difícil aplicar os
critérios da guerra justa. A utilização de armas nucleares e químicas, o
terrorismo à escala global e os atentados suicidas contra pessoas inocentes são
realidades novas que baralham e confundem os dados, tornando extremamente
difícil colocar em prática a teoria da guerra justa. Ultimamente, são cada vez
mais os eticistas cristãos que fazem a distinção entre causas justas para
entrar numa guerra (ius ad bellum) e práticas justas de guerra (ius in bello).
A fim de aprofundar esta temática, é essencial a leitura de alguns textos de
Agostinho de Hipona e de Tomás de Aquino: do primeiro teólogo cristão, sugiro
Resposta a Fausto, o Maniqueu XXII, 69‐76; do segundo, aconselho a Suma de
Teologia, 2ª 2ae, 40.1‐2.
Notas
1) Gill, R. (2006) (Ed.). A
Textbook of Christian Ethics. Londres: T and T Clark 2) Idem, p.196
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