quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Educação para a cidadania: a perspetiva liberal face ao projeto revolucionário

A proposta liberal centra a educação para a cidadania no conhecimento e apreço pelas virtudes intelectuais e éticas que integram o cânone da Civilização Ocidental. Esse conhecimento e apreço faz-se através da prática e dos hábitos. O contacto com bons exemplos de civilidade, a leitura dos clássicos e o contágio proporcionado por um ambiente que preza e cultiva as virtudes são outras importantes estratégias. Na proposta liberal conservadora, a educação para a cidadania visa criar boas pessoas e bons cidadãos. Para se ser boa pessoa é necessários ter um bom caráter e, para tal, urge conhecer e apreciar as virtudes da prudência, da temperança, da amizade, da justiça e da fortaleza.

A proposta neomarxista centra a educação para a cidadania no doutrinamento da criança e do jovem em função de uma agenda política transformadora e revolucionária que visa a rutura com o cânone da Civilização Ocidental, vista como opressora, e a imposição de novos valores que estão para além da ética e da estética. Ao invés de centrar a educação para a cidadania no conhecimento e prática das virtudes, a proposta neomarxista sacrifica as tradições, o cânone cultural e as virtudes éticas à imposição do conceito de igualdade absoluta, subvertendo a realidade, incluindo a realidade biológica, a uma visão de futuro que visa impor uma nova ordem e uma nova humanidade. 

O neomarxismo tem ganho força e adesão nos meios académicos, travestindo-se de teoria do género (1) e da ideologia queer (2). Quem se lhes opõe é etiquetado de reacionário e homofóbico e esses rótulos podem dar cabo de qualquer carreira académica. O objetivo é, aliás, esse: impedir que as outras perspetivas se façam ouvir na academia, apagando-as do espaço público encharcado de uma agenda política que, em nome da igualdade absoluta, pretende apagar toda a realidade que desminta a teoria do género. No fundo, a teoria do género mantém e atualiza uma ideia central ao projeto marxista-leninista da construção do Homem Novo, uma realidade construída sob os escombros da velha sociedade de classes, aniquilamento das tradições e das classes que com elas se identificam. Tal empreendimento exige um nível de destruição apocalítico, que não deixa pedra sobre pedra do velho edifício social, económico e cultural. Marx, no Manifesto Comunista, chamou a esse projeto revolucionário a fase da ditadura do proletariado. Pelo caminho, sucumbem as classes ditas opressoras e a cultura que elas personificam. Um empreendimento desta dimensão e ambição - a construção do Homem Novo - exige um grau de destruição de bens e de vidas que pôde ser visto em todas as revoluções comunistas que varreram o século XX.

Recentemente, vivi uma situação que mostra bem a diferença entre a proposta liberal e a proposta neomarxista. Sucedeu num júri de mestrado. Uma tese sobre educação para a cidadania na perspetiva aristotélica orientada por mim. A arguente era uma militante ligada aos movimentos de emancipação sexual. Volta e meia, a arguente perguntava: onde está a proposta transformadora na sua tese? Não vejo nela mecanismos de resistência ao pensamento hegemónico sobre as desigualdades. Não vejo como é que as estratégias que aponta ajudam a criar a rutura face ao cânone que mantém a opressão das minorias sexuais. O seu discurso usa uma linguagem sexista. E por aí fora, numa série de acusações ideológicas sem a menor preocupação em respeitar o enquadramento teórico escolhido pela mestranda, como se só houvesse um quadro teórico legítimo e esse quadro tivesse de incluir, obrigatoriamente, a teoria do género, o comunismo, o materialismo histórico e dialético e a defesa da agenda dos movimentos homossexuais, trans-sexuais e intersexuais.

No centro da chamada teoria do género está a ideia - errada - de que a nossa identidade sexual não tem origem biológica. Para os radicais da teoria do género, a identidade sexual é uma construção social e cultural: não se nasce rapaz ou rapariga, vai-se optando por ser uma coisa ou outra ou as duas coisas em simultâneo, um pouco ao sabor do vento, do império dos desejos ou do capricho das paixões. Querer apagar a realidade biológica constitui, para os radicais da teoria do género, a maior das ruturas e o mais empolgante dos desafios. A teoria do género busca no marxismo a negação da realidade, a construção de realidades virtuais, falsas mas poderosas, negação essa que legitima o projeto revolucionário dirigido por pequenas vanguardas que o vão impondo a todos, ocupando o espaço público de uma forma gradualmente hegemónica. Quem recusa o projeto revolucionário, travestido de teoria do género ou de qualquer outra máscara, é apelidado de reacionário, homofóbico, conservador ou neoliberal, afastado do espaço público, perseguido e injuriado. 

A heterossexualidade é vista como uma construção cultural, imposta pelas tradições "opressoras" e aqueles que as representam: igrejas, autores que integram o cânone ocidental e todos os que ousam afirmar publicamente que se nasce com uma determinada identidade sexual. Os radicais da teoria do género e da sua versão mais extremista, a teoria queer, vão ao ponto de afirmar que não foi dada liberdade de escolha aos heterossexuais porque, nas sociedades capitalistas, a hererossexualidade é uma imposição quando devia ser uma escolha, um produto de uma construção cultural, fluída, flexível e polimorfa. Em última instância, os radicais queer sonham em banir a heterossexualidade, pôr fim a todos os vestígios de maternidade, arrasando a articulação entre sexo e reprodução, substituindo-a pela poli-identidade sexual, a qual não é mais do que uma miríade, sempre crescente, de identidades sexuais que se juntam ou sucedem no indivíduo como expressão da anarquia e do caos polimorfo. A associação do sexo à reprodução e a maternidade estão na ponta da mira dos extremistas queer porque é aí que a ideologia do género e a ideologia queer são desmentidas, a toda a hora, em todos os lugares, sempre que uma mulher engravida e um bebé nasce com um sexo definido e uma identidade sexual que se vai revelando à medida que o bebé dá lugar à criança e esta ao jovem.

 As referências à chamada linguagem inclusiva, feitas amiúde pelos radicais, têm como objetivo fazer uma censura sobre a linguagem usada, pressionando as pessoas a, sobretudo as que estão numa situação de dependência ou fragilidade, a aderir, ainda que à força, a um tipo de linguagem que serve a agenda política dos movimentos neomarxistas, a qual não é mais nem menos do que o controlo do pensamento através da imposição de uma linguagem politicamente correta, legitimada por uma pretensa superioridade moral alicerçada na ideia de igualdade.

Como resistir eficazmente à crescente hegemonia da teoria do género e da ideologia queer nos meios académicos? Em primeiro lugar, é preciso recusar o policiamento da linguagem e mostrar que a linguagem erudita foi fixada, ao longo dos últimos séculos, por uma plêiade de grandes escritores e ser fiel a essa tradição é respeitar os gigantes sobre cujos ombros nós nos sentamos para podermos ver mais além. Em segundo lugar, não nos deixarmos colar aos preconceitos, afirmando, bem alto, o nosso respeito por todas as formas de sexualidade, sem nos afastarmos da ideia de que a heterossexualidade é uma norma que foi criada pela evolução biológica, sem negar, no entanto, a liberdade de expressão de outras orientações sexuais. Gender is first and foremost a genetic imperative. Society does not determine gender roles; nature does. A man who chops up his body and takes hormone pills to look like a woman is not and will never be a woman. A woman who tapes down her breasts and gets a short haircut will never be a man. There is no such thing as “transgendered” people. No amount of social justice or wishful thinking will ever allow them to reverse their genetic proclivities. Their psychological and sexual leanings do not change their inborn biological reality.

By extension, we should refuse to play along with this nonsense. I will never refer to a man in a wig and dress as a “woman.” I will never refer to a woman with identity issues as “transgendered.” They are what nature made them, and we should not police our pronouns just to falsely reassure them that they can deny nature. (Tyler Durden on 11/07/2015, published in zerohedge.com).

Notas
1) A teoria do género é um ideologia que defende que não se nasce rapaz ou rapariga e que, ao invés, a identidade sexual é uma construção social e cultural, recusando a normatividade associada à orientação heterossexual, vista como uma imposição que discrimina e cria desigualdade.

2) A ideologia queer é uma ideologia que recusa toda a normativização sexual, defendendo, ao invés, a livre expressão de tudo o que se afasta da norma em matéria sexual, impondo uma estética do bizarro associada aos desvios sexuais considerados pela ideologia queer como estimáveis e libertadores. A ideologia queer vai mais longe do que a teoria do género, recusando a ideia de orientação sexual, substituindo pela poli-identidade sexual, algo que está para além da ética, da estética e da orientação sexual.

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